segunda-feira, 3 de agosto de 2009

CONVERSANDO COM DEUS

Postado por Paulo Coelho

Em um dos meus livros, “O Monte Cinco”, o personagem principal rebela-se contra os desígnios de Deus, e não quer mais escutá-lo.
Inspirei-me em uma passagem bíblica, quando Jacó luta com Deus dentro de uma tenda, e só o deixa partir depois que Ele o abençoa.
Da mesma maneira que um jovem sadio precisa ter uma dose de rebelião necessária para enfrentar-se com seus pais e impor sua Lenda Pessoal, Deus também deseja que exerçamos, a cada minuto de nossas vidas, o poder de nossas decisões.
É muito fácil ficar transferindo a responsabilidade para os outros (e para Ele), só para depois culparmos o mundo pela injustiça a nossa volta, e o fracasso dentro de nós.
Mas aonde isto nos leva? A lugar nenhum.
Deus nos escuta. Deus nos leva a sério. Vale a pena relembrar aqui um outro episódio bíblico onde esta faculdade está claramente descrita:
No livro do Gênesis (18:22-33), o Todo Poderoso resolve avisar a Abraão que irá destruir Sodoma e Gomorra. Abraão não aceita: por que os inocentes devem ser sacrificados junto com os pecadores?
Abraão vai mais além. Diz: “Como ousa o Senhor fazer tal coisa, matar o justo junto com o ímpio?”
E exige que Deus se comprometa a não destruir a cidade, se ali viverem 50 justos. Deus se compromete.
Abraão começa a barganhar, dizendo que seria absurdo, caso faltassem apenas cinco para formar 50, que Ele tomasse tal decisão. Deus aceita não destruir a cidade se ali viverem 45 justos, ou 30, ou 20, ou dez… Deus aceita cada um dos argumentos de Abraão, e vai prometendo mudar de idéia.
Sabemos que, na Bíblia, Deus termina destruindo Sodoma e Gomorra, salvando apenas uma família. Mas, antes de tomar esta decisão, Ele estava aberto ao diálogo.
Temer a Deus não significa ter medo de Deus. Deus está muito mais aberto para uma conversa do que imaginamos; é só começar o diálogo, e ficaremos surpresos com os resultados.

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